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segunda-feira, 6 de julho de 2015

Carta aos Líderes de Juventude das igrejas evangélicas no Brasil


Aos pastores e líderes de juventude,
Esta carta intenta dizer o que vocês, talvez, já saibam: que a juventude tem um ímpeto e uma energia que faz dela um “lugar” especial como instrumento de mudança, depósito de indignação, violência, provocação, criatividade e ousadia. Mas como saber disso não basta, falar sobre o que vocês, em geral, tem feito com isso é o que realmente me inspirou a escrever o que agora segue.

Tá difícil ver os congressos que vocês organizam com centenas, as vezes milhares de jovens, discutindo as mesmas questões primárias, que só interessam às suas denominações e esse gueto evangélico, e nada à sociedade. 30 mil jovens assassinados por ano no Brasil, mais de 70% deles negros, e vocês se calam. Seus jovens liderados sequer sabem disso. Vocês estão se lixando para o encarceramento em massa, a cada ano, de pretos, pobres e favelados; só vocês conseguem ignorar uma chacina como a de Cabula; só o mundinho de vocês pra ignorar a morte, pelo estado, de 43 jovens estudantes em Ayotzinapa, como se vocês não fossem nem jovens, nem estudantes; vocês pulam, cantam e repetem frases feitas para “o irmão do lado” enquanto o Complexo do Alemão e a Maré sangram e na baixada fluminense a juventude é exterminada. Vocês advertem seus jovens ao perigo da “ideologia de gênero”, enquanto a ideologia por detrás do racismo, bem como a ideologia do extermínio presente na cultura policial militar no Brasil é um mal menor.

Martin Luther King tornou-se pastor aos 19 anos de idade, em 1948. Apenas sete anos depois, em 1955, portanto com 26 anos, liderou o famoso boicote aos ônibus em Montgmomery, em protesto ao racismo e violência sofridos pela negra Rosa Parks. É claro que eu acredito na sinceridade de vocês no desejo de verem uma juventude saudável e com a vida em santidade (seja lá o que isso queira dizer). Mas o efeito colateral da liderança de vocês neste sentido tem sido uma juventude apática, socialmente inútil, completamente indiferente à qualquer clamor que não venha embalado de religião e moral.

Então essa carta é para vocês. Por favor, se empenhem. Esses congressos de vocês estão inúteis. A sociedade não ganha nada com eles. Parem de contribuir com a castração da potência da juventude. Parem de alimentar o avanço de uma juventude mente fechada, egoísta, reacionária, arrogante e indiferente. Por favor voltem a Isaías 58 e trabalhem com eles o jejum útil para eles e para a comunidade local, para a sociedade. Por favor vão ao Evangelho e digam a eles que a justiça deles deve superar a dos escribas e fariseus. Ninguém mais na sociedade aguenta esse moralismo chato e arrogante, essa fé que olha do alto do pedestal. Vocês deveriam se envergonhar de ver um jovem liderado seu dizendo que “bandido bom é bandido morto” e que quem acredita na possibilidade de recuperação de um menor infrator deve “levar um bandidinho pra casa”. E se você pensa, a vergonha é você mesmo.

Por favor, devolvam nossos jovens. Devolvam a juventude à eles. Não se iludam que os ajudando a controlarem o apetite sexual e a ficarem longe do álcool e das drogas farão deles a juventude dos sonhos de Deus. Eles serão bons meninos/meninas e caretas. Pode ser bom (até acredito que seja). Mas juventude dos sonhos de Deus eles só serão quando canalizarem essa energia para causas em que a vida do outro e seu sofrimento, sua desesperança e violação de direitos tornem-se a causa deles também. Tem que pensar na cidade. Tem que pensar na sociedade sim. Tem que sair do fantástico mundo dos congressos dos templos de vocês.

No amor em Cristo,
Ronilso Pacheco, 02 de Julho de 2015

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