Ouço com muita frequência sobre a dificuldade dos lideres em
conseguirem manter os jovens em conexão, que em razão do distanciamento social
muitos dispersaram. Nesse sentido estamos vivendo um tempo paradoxal, porque
nesse mesmo cenário, novas lideranças surgiram.
Me permitam mostrar-lhes pelo menos dois exemplos práticos,
onde essa dispersão não parece fazer sentido, vejamos:
Exemplo 1
Quando entramos abruptamente na quarentena, milhares de
igrejas no Brasil não tinham nenhuma produção virtual, e suas atividades eram
100% presenciais.
Foram os adolescentes e jovens que forneceram algum suporte
para inserir suas igrejas nas redes sociais e assim, facilitar seus pastores no
uso desses recursos. Sim, a mensagem do evangelho foi pregada graças a esses
meninos e meninas que com um celular na mão mantiveram suas igrejas
“abertas”.
Exemplo 2
O formato de atuação de muitos lideres supõe que o grupo
ouvirá o líder ou quem esse mesmo franquear a fala, e em sua maioria, o grupo é
um ator passivo, quase nunca protagonista em suas atividades. Nos ensinaram na
pratica que o líder é o protagonista da construção e sobretudo da fala. Produzimos
e executamos eventos e iniciativas que sugerem quase um monologo, e damos a
eles somente momentos em que se expressem coletivamente. Daí surge a quarentena
e tudo que tínhamos como referencia de liderança até aquele momento não daria
suporte para os próximos passos. Antes mesmo que pensássemos em como seria
nossa atuação, lá estavam os jovens e adolescentes, tacando lives no instagram,
dando opinião, mostrando receitas culinárias, mostrando o treino, dando dicas
de series e filmes nas plataformas de streaming, falando de sua rotina durante
o isolamento social. Sim, eles protagonizaram, usaram sua voz, a mesma voz que
muitas vezes foi silenciada na igreja onde congregam, simplesmente por alguém
não acreditarem neles.
Com esses dois exemplos acima, penso que a dispersão tem mais
a ver com os espaços que não damos a eles. Quando a igreja durante a quarentena
mais precisou eram eles que estavam lá furando o isolamento para manter as
portas “abertas” e são os mesmo que estão produzindo tudo nas redes sociais.
Eles estão mostrando duas novas realidades, são elas: São
novas lideranças chegando e que podem dar conta de fazer uso da fala,
promovendo o reino em lugares e plataformas que ainda não alcançamos como
instituição. Cabe a nós treina-los com excelência, e dar conhecimento
teológico, para que tenham atuem com compromisso com o reino e com a igreja.
Para esse novo tempo das interações sociais, do cotidiano e
da forma de ser igreja, vamos precisar de novas soluções e de entender o
potencial contido nessas novas lideranças. Traga-os para a construção do
processo decisório, deixe eles contribuírem com ideias e darem opiniões na
agenda e na proposta das próximas atividades. Acredite, isso pode mudar
radicalmente o perfil de sua liderança e a historia desses jovens. Eles estão
falando com as atitudes que podem sim colaborar com sua liderança. Esse
conceito esta descrito na definição que fiz sobre a liderança de jovens, leia:
“Caminhar juntos em diálogo, observando e ouvindo, numa
construção coletiva de soluções, que afetarão você e o grupo para além de sua
gestão. Isso é liderança de juventude.”
Jader Cruz
Acompanho com frequência varias iniciativas de ministério com
jovens e adolescentes, e é possível perceber quando tem na atividade um maior
engajamento do grupo. Um desses que acompanho são as ações promovidas pela
juventude da AD Candelária – IEADERN. Desde que falei no congresso dessa igreja
vi o quanto o grupo é engajado com a liderança. Quando comecei a escrever esse
texto pedi a um dos lideres que falasse como se deu essa virada, da forma
tradicional para esse perfil de engajamento que chegaram. Quero que leia o
relato abaixo, isso vai te ajudar a entender esse processo de inserir os jovens
no processo construtivo, vejamos:
Sempre fomos uma igreja muito grande, uma das maiores da
capital. Pastores entravam e saíam e seguíamos o mesmo estilo tradicional de
liderança com a juventude. Nunca mudamos a estratégia. Porém, novas igrejas com
perfil para atrair o público jovem se instalaram na mesma região da cidade e
alguns jovens começaram a migrar para elas. Alguns líderes importantes, pessoas
influentes nossas se foram. Quanto mais gente saía, mais aumentava a vontade
dos outros de sair também. Algo estava faltando em nosso trabalho? O nosso zelo
e amor continuava, mas nossa dor era grande: não porque alguns partiram - pois
muitos deles nós sabíamos que estavam firmes na fé também em sua nova igreja.
Mas nossa tristeza era pelo desânimo nos que ficavam conosco. Era por imaginar
que não estávamos executando bem nosso trabalho. O coral jovem agora era 70% de
cadeiras vazias. O conjunto de adolescentes reunia os “fora de faixa” para
tentar louvar com 10 pessoas. Mas a estratégia de eventos e de atividades
continuava em ritmo parecido.
No anseio de ver as coisas voltarem a acontecer, os dos
nossos líderes marcou um café, que ele chamou de “café com a liderança”. Todos
os jovens foram avisados e trouxeram ideias. E, para a surpresa dos
participantes, todas as ideias foram acatadas, e cada um que dava uma ideia
tornava-se também líder desta nova ação.
Hoje, nosso cenário é outro. A maioria dos nossos jovens
tem alguma função na juventude, se sente útil, faz algo. Em momentos em que
nós, líderes da juventude, estamos cansados, eles mesmos nos ajudam e realizam
tudo. São proativos, responsáveis, amam a obra. É outro perfil! Não é fácil
confiar integralmente, não é fácil ter que tentar convencer o pastor a liberar
algumas ideias mais “ousadas” que nossos pastores às vezes não estão
acostumados. Mas com amor, tudo vai dando certo, e estamos muito felizes com nosso
grupo, é a geração de jovens mais batalhadores para o Senhor que já conhecemos.
E os que se foram, voltaram? Não! Mas entendo que eles
precisavam ir para que os atuais pudessem se desenvolver. E o espaço que sobrou
na igreja é para que haja lugar para os muitos que ainda virão.
Ari Barreto
Reflitam a partir desse texto, conversem com suas equipes,
tomem um tempo pensando no cenário atual. Entenda, o pouco engajamento que
vivemos no ministério com jovens e adolescentes se dá em razão da nossa pouca
habilidade de envolvê-los no processo construtivo e decisório da nossa agenda. Temos
que parar de trabalhar para eles, e começar a trabalhar com eles. Quando eles
se percebem envolvidos será mais fácil tê-los comprometidos. Sim, isso é uma
mudança de paradigmas, é sobre isso que estamos lidando nesse novo tempo.
Se você se sente inseguro para conduzir esse processo de
mudança no perfil de sua liderança, ore a Deus, peça ajuda a sua rede, fale com
sua equipe, acione seus mentores, faça alguma coisa, só não se permita se
conformar com esse perfil protagonista que mais afasta do que te aproxima do
grupo. Abaixa a cabeça não, dá tempo de assumir nova postura!
Vamos pra cima, pela causa!
Pr. Jader Cruz
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