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sábado, 4 de julho de 2020

Novas lideranças chegando

Ouço com muita frequência sobre a dificuldade dos lideres em conseguirem manter os jovens em conexão, que em razão do distanciamento social muitos dispersaram. Nesse sentido estamos vivendo um tempo paradoxal, porque nesse mesmo cenário, novas lideranças surgiram.

Me permitam mostrar-lhes pelo menos dois exemplos práticos, onde essa dispersão não parece fazer sentido, vejamos:

Exemplo 1
Quando entramos abruptamente na quarentena, milhares de igrejas no Brasil não tinham nenhuma produção virtual, e suas atividades eram 100% presenciais.
Foram os adolescentes e jovens que forneceram algum suporte para inserir suas igrejas nas redes sociais e assim, facilitar seus pastores no uso desses recursos. Sim, a mensagem do evangelho foi pregada graças a esses meninos e meninas que com um celular na mão mantiveram suas igrejas “abertas”. 

Exemplo 2
O formato de atuação de muitos lideres supõe que o grupo ouvirá o líder ou quem esse mesmo franquear a fala, e em sua maioria, o grupo é um ator passivo, quase nunca protagonista em suas atividades. Nos ensinaram na pratica que o líder é o protagonista da construção e sobretudo da fala. Produzimos e executamos eventos e iniciativas que sugerem quase um monologo, e damos a eles somente momentos em que se expressem coletivamente. Daí surge a quarentena e tudo que tínhamos como referencia de liderança até aquele momento não daria suporte para os próximos passos. Antes mesmo que pensássemos em como seria nossa atuação, lá estavam os jovens e adolescentes, tacando lives no instagram, dando opinião, mostrando receitas culinárias, mostrando o treino, dando dicas de series e filmes nas plataformas de streaming, falando de sua rotina durante o isolamento social. Sim, eles protagonizaram, usaram sua voz, a mesma voz que muitas vezes foi silenciada na igreja onde congregam, simplesmente por alguém não acreditarem neles.

Com esses dois exemplos acima, penso que a dispersão tem mais a ver com os espaços que não damos a eles. Quando a igreja durante a quarentena mais precisou eram eles que estavam lá furando o isolamento para manter as portas “abertas” e são os mesmo que estão produzindo tudo nas redes sociais.

Eles estão mostrando duas novas realidades, são elas: São novas lideranças chegando e que podem dar conta de fazer uso da fala, promovendo o reino em lugares e plataformas que ainda não alcançamos como instituição. Cabe a nós treina-los com excelência, e dar conhecimento teológico, para que tenham atuem com compromisso com o reino e com a igreja.

Para esse novo tempo das interações sociais, do cotidiano e da forma de ser igreja, vamos precisar de novas soluções e de entender o potencial contido nessas novas lideranças. Traga-os para a construção do processo decisório, deixe eles contribuírem com ideias e darem opiniões na agenda e na proposta das próximas atividades. Acredite, isso pode mudar radicalmente o perfil de sua liderança e a historia desses jovens. Eles estão falando com as atitudes que podem sim colaborar com sua liderança. Esse conceito esta descrito na definição que fiz sobre a liderança de jovens, leia:

“Caminhar juntos em diálogo, observando e ouvindo, numa construção coletiva de soluções, que afetarão você e o grupo para além de sua gestão. Isso é liderança de juventude.”
Jader Cruz

Acompanho com frequência varias iniciativas de ministério com jovens e adolescentes, e é possível perceber quando tem na atividade um maior engajamento do grupo. Um desses que acompanho são as ações promovidas pela juventude da AD Candelária – IEADERN. Desde que falei no congresso dessa igreja vi o quanto o grupo é engajado com a liderança. Quando comecei a escrever esse texto pedi a um dos lideres que falasse como se deu essa virada, da forma tradicional para esse perfil de engajamento que chegaram. Quero que leia o relato abaixo, isso vai te ajudar a entender esse processo de inserir os jovens no processo construtivo, vejamos:

Sempre fomos uma igreja muito grande, uma das maiores da capital. Pastores entravam e saíam e seguíamos o mesmo estilo tradicional de liderança com a juventude. Nunca mudamos a estratégia. Porém, novas igrejas com perfil para atrair o público jovem se instalaram na mesma região da cidade e alguns jovens começaram a migrar para elas. Alguns líderes importantes, pessoas influentes nossas se foram. Quanto mais gente saía, mais aumentava a vontade dos outros de sair também. Algo estava faltando em nosso trabalho? O nosso zelo e amor continuava, mas nossa dor era grande: não porque alguns partiram - pois muitos deles nós sabíamos que estavam firmes na fé também em sua nova igreja. Mas nossa tristeza era pelo desânimo nos que ficavam conosco. Era por imaginar que não estávamos executando bem nosso trabalho. O coral jovem agora era 70% de cadeiras vazias. O conjunto de adolescentes reunia os “fora de faixa” para tentar louvar com 10 pessoas. Mas a estratégia de eventos e de atividades continuava em ritmo parecido. 
No anseio de ver as coisas voltarem a acontecer, os dos nossos líderes marcou um café, que ele chamou de “café com a liderança”. Todos os jovens foram avisados e trouxeram ideias. E, para a surpresa dos participantes, todas as ideias foram acatadas, e cada um que dava uma ideia tornava-se também líder desta nova ação. 
Hoje, nosso cenário é outro. A maioria dos nossos jovens tem alguma função na juventude, se sente útil, faz algo. Em momentos em que nós, líderes da juventude, estamos cansados, eles mesmos nos ajudam e realizam tudo. São proativos, responsáveis, amam a obra. É outro perfil! Não é fácil confiar integralmente, não é fácil ter que tentar convencer o pastor a liberar algumas ideias mais “ousadas” que nossos pastores às vezes não estão acostumados. Mas com amor, tudo vai dando certo, e estamos muito felizes com nosso grupo, é a geração de jovens mais batalhadores para o Senhor que já conhecemos.
E os que se foram, voltaram? Não! Mas entendo que eles precisavam ir para que os atuais pudessem se desenvolver. E o espaço que sobrou na igreja é para que haja lugar para os muitos que ainda virão.
Ari Barreto

Reflitam a partir desse texto, conversem com suas equipes, tomem um tempo pensando no cenário atual. Entenda, o pouco engajamento que vivemos no ministério com jovens e adolescentes se dá em razão da nossa pouca habilidade de envolvê-los no processo construtivo e decisório da nossa agenda. Temos que parar de trabalhar para eles, e começar a trabalhar com eles. Quando eles se percebem envolvidos será mais fácil tê-los comprometidos. Sim, isso é uma mudança de paradigmas, é sobre isso que estamos lidando nesse novo tempo.

Se você se sente inseguro para conduzir esse processo de mudança no perfil de sua liderança, ore a Deus, peça ajuda a sua rede, fale com sua equipe, acione seus mentores, faça alguma coisa, só não se permita se conformar com esse perfil protagonista que mais afasta do que te aproxima do grupo. Abaixa a cabeça não, dá tempo de assumir nova postura!

Vamos pra cima, pela causa!
Pr. Jader Cruz


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